
O Ato Institucional Número 5 (AI-5) endureceu o regime.
História Livre - História Brasil - Golpe Militar
DO
GOLPE CIVIL-MILITAR DE 1964 AO
GOLPE “LINHA DURA” DE 1968
Resenha crítica
ao artigo “O Golpe de 1964 e o Regime de 1968:
aspectos
conjunturais e variáveis históricas”
de Adriano Nervo Codato
Marcos
Emílio Ekman Faber
Adriano Nervo Codato inicia o artigo com a seguinte
afirmativa: “O ano de 1964 só se consuma
politicamente em 1968” (p. 12). Esta afirmação
é simbólica para o que será
analisado ao longo do texto, ou seja, que o
Golpe de 1964 somente se concretizou após
a edição do Ato Institucional
no. 5 (AI-5), onde ocorreu a transição
entre o regime autoritário num regime
militar de extrema direita.
O autor passa, então, a descrever o panorama
político interno no governo militar entre
1964 e 1968. Explica que o regime não
era coeso internamente, pois dentro do regime
existiam mais de uma corrente política,
cita os castelistas, grupo formado por membros
da Escola Superior de Guerra (ESG), os albuquerquistas,
os palacianos e o grupo dos linha dura. Porém,
as disputas políticas ocorreram, principalmente,
entre castelistas, centralizados na figura do
presidente Castelo Branco, e os linha dura,
estes últimos representavam os seguimentos
que desejavam um endurecimento do regime, principalmente
com relação à repressão
aos opositores do regime. Tanto um quanto outro
grupo não possuía inicialmente
um projeto de governo para o Brasil, ambos estavam
mais preocupados em derrubar os movimentos “perigosos”
e o populismo, esta afirmação
será muito importante nas conclusões
finais do autor.
O autor também afirma que durante o governo
militar brasileiro (1964-1985) existiu momentos
em que o regime foi mais repressivo com momentos
em que o regime foi mais liberal, isto ocorreu
independente do grupo militar que estava no
comando.
Cotado afirma que o objetivo geral do artigo
é o de “refletir sobre o processo de
conversão do ‘regime autoritário’
brasileiro do pós 64 (...) em regime
ditatorial-militar no pós 68” (p. 15)
e especificamente tem como objetivo examinar
a (s) causa (s) da edição do AI-5.
Feito estas considerações iniciais,
o autor descreve o período entre 1964
e 1968 com ênfase nos movimentos de oposição:
movimento estudantil (União Nacional
dos Estudantes – UNE), classe média (profissionais
liberais e feministas) e burgueses (comerciantes,
industriários e fazendeiros) e como estes
setores se comportaram no período. Codato
relata o “Dia do Luto” pela morte do estudante
Edson Luís de Lima Souto, e a manifestação
dos “Cem Mil” entre outros, como principais
manifestações de oposição
à ditadura.
Com isso, o autor passa a fazer uma análise
historiográfica do período citado
(1964-1968). O autor descreve as principais
corrente teóricas sobre o período:
internalistas e externalistas, a primeira explicita
que o endurecimento do regime se deu internamente,
ou seja, pelos próprios militares, e
a segunda explica a radicalização
do regime a questões externas ao regime.
Cada uma das correntes historiográficas
pode ser dividida em duas hipóteses distintas.
Hipótese 1: O endurecimento do regime
representou a vitória política
do grupo linha dura sobre os castelistas.
Hipótese 2: O grupo linha dura orquestrou
com sucesso um “golpe dentro do golpe”, ou seja,
o AI-5 foi um golpe dos radicais sobre os castelistas.
Porém, ambas as explicações
internalistas superestimam o regime militar
e afirmam que o grupo linha dura foi o único
responsável pela radicalização
do regime.
Hipótese 3: Foi a radicalização
dos movimentos oposicionistas que provocou o
lançamento do AI-5.
Hipótese 4: O AI-5 foi causado devido
a uma crise parlamentar envolvendo o deputado
Márcio Moreira Alves (MDB-GB).
Porém, ambas as explicações
externalistas caem no mesmo erro das anteriores,
mas pelo motivo inverso, isto é, superestimam
as oposições ao regime como se
estas fossem capazes naquele momento de representar
uma alternativa coesa ao regime imposto.
Hipótese 5: A CIA atribuiu a necessidade
de implementação do AI-5 a inabilidade
política do presidente Costa e Silva,
porém esta hipótese deve ser descartada
por estar impregnada de preconceito estadunidense
ao governante brasileiro.
Finalmente o autor passa a defender sua teoria
a respeito do endurecimento militar pós-AI-5.
Para Cotado, nenhuma das explicações
anteriores é capaz de explicar sozinha
os motivos que levaram o regime de 1964 ao endurecimento
de 1968. Para o autor, é necessário
combinar estas explicações, porém,
levando em conta o fator ideológico.
Pois as explicações para a edição
do AI-5 passam por questões ideológicas
em comum dentro das distintas correntes internas
ao regime (linha dura, albuquerquistas, palacianos
e castelistas): o temor ao comunismo. Codato
cita o preâmbulo do AI-5 e o depoimento
do coronel Gustavo Moraes Rego Reis, onde ambos
relatam o preconceito/temor ao comunismo e a
necessidade de defender a “revolução”
(regime militar).
Porém, Codato não fica apenas
nestas afirmações, pois para o
autor, as oposições também
tiveram seu papel de destaque neste processo.
“Como explicar as razões da derrota política
das oposições e o fracasso do
movimento anti-autoritário?” (p. 32).
Para o autor a resposta está no fato
de as oposições não representarem
um movimento coeso, ao contrário, cada
um dos grupos opositores ao regime defendia
propostas distintas e, em alguns casos, inconciliáveis.
O movimento estudantil, liderado pela União
Nacional dos Estudantes (UNE), defendia uma
oposição radical ao regime e em
alguns casos, principalmente as vanguardas estudantis,
pregavam idéias comunistas. Já
as classes médias, formadas por profissionais
liberais e pelo movimento feminino, carregavam
a bandeira da democracia, em nenhum momento
lutavam contra o imperialismo ou o capitalismo
internacional, o que desejavam era apenas uma
maior participação política.
Já os burgueses (industriais, comerciantes
e fazendeiros) buscavam uma maior participação
no processo decisório nacional, na verdade
se pudessem apenas ocupariam o lugar dos militares
no comando do país. Estas diferenças
representaram, portanto, um fator de afastamento
entre as diferentes correntes oposicionistas
o que possibilitou ao regime militar com certa
facilidade para radicalizar a ditadura ao lançar
o Ato Institucional 5.
Achamo-nos, dessa forma, diante de um impasse
intransponível nessa conjuntura: a oposição
burguesa deseja a “redemocratização”
do país, mas revela-se incapaz de mobilizar
outros setores sociais para esse objetivo; as
camadas médias tradicionais, lideradas
pelo movimento estudantil, ao exprimirem sua
plataforma política: a “verdadeira democracia”
(i. e., as formas de representação
política antipopulistas) conflitam com
os projetos muito mais radicais de uma facção
dos estudantes. Portanto, dos impedimentos relativos
que um setor de oposição coloca
a outro (aliado ao movimento repressivo do Estado),
calçou-se o terreno para a vitória
dos grupos que, dentro e fora do aparelho do
Estado, impunham a necessidade do aprofundamento
do autoritarismo. O Ato 5 foi o seu começo
(p. 34).
Referências
CODATO, Adriano Nervo. “O Golpe de 1964 e o
Regime de 1968: aspectos conjunturais e varáveis
históricas” In: Revista História:
Questões & Debates, no. 40, pp.11-36.
Curitiba: Editora UFPR, 2004.
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