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Manifestação Anti-Imperialista durante o Fórum Social Mundial de 2005 em Porto Alegre.

História Livre - História Contemporânea- Imperialismo

O IMPERIALISMO CONTEMPORÂNEO

Marcos Emílio Ekman Faber

Introdução

Neste breve artigo pretendo conceituar o que é o “imperialismo”, particularmente o imperialismo da virada do século XIX para XX. Porém, antes de definirmos o imperialismo, é necessário compreendermos outros conceitos. É importante entendermos o que é monopólio imperialista, o que são os trustes e o que são os cartéis.

O primeiro conceito a ser entendido é o de monopólio. Monopólio “é um produto de concentração da produção num grau muito elevado do seu desenvolvimento, sendo que é formado pelas associações monopolistas dos capitalistas, pelos cartéis, pelos sindicatos e pelos trustes” (CATANI, 1982, p.13). O Segundo conceito a ser compreendido é o conceito de truste. Truste é o resultado da associação financeira de várias firmas em uma só empresa. E, por fim, cartel é o acordo comercial realizado entre empresas produtoras, que mantém a autonomia interna, porém, se une a outras empresas na forma de sindicatos para determinar preços e dividir o mercado, acabando com a livre concorrência (CATANI, 1982, p.13).

As raízes do imperialismo

Os monopolistas da fase pré-imperialista buscavam controlar as fontes de matérias-primas, o que acirrou as contradições entre a indústria cartelizada e a não cartelizada (industriários independentes).

Outro fator determinante para o surgimento do capitalismo imperialista foi o que diz respeito ao monopólio bancário. Os bancos, inicialmente empresas intermediárias, tornaram-se monopolistas do capital financeiro. “A oligarquia financeira tece uma densa rede de relações de dependência entre todas as instituições econômicas e políticas da sociedade burguesa contemporânea sem exceção” (CATANI, 1982, p.14).

Também é importante entendermos que o monopólio tem origem no colonialismo. “Aos numerosos ‘velhos’ motivos da política colonial, o capital financeiro acrescentou a luta pelas fontes de matérias-primas, pela exportação de capitais pelas ‘esferas de influência’ (...) e, finalmente, pelo território econômico em geral” (CATANI, 1982, p.15).

A grande contradição ocorreu quando a associação entre o capital industrial e o capital financeiro acabou com a livre concorrência, pondo fim ao liberalismo econômico. Surgia, assim, o imperialismo que foi defino por Lênin como “a fase superior do capitalismo”.

“A característica mais importante da etapa imperialista do desenvolvimento do capitalismo era a total submissão das economias capitalistas ao domínio dos monopólios, tendência que Marx já havia previsto com muita lucidez” (HUNT; SHERMAN, 2001, p.160).

Os monopólios e as oligarquias possuem uma tendência natural para a dominação. Puseram, portanto, fim a liberdade de mercado. As nações ricas – Inglaterra, França, EUA e Alemanha - dominaram e exploraram um número cada vez maior de nações pequenas. Esses fatores determinaram o surgimento do imperialismo.

Neste período o capitalismo cresceu numa velocidade incomparavelmente maior do que antes, “mas este crescimento não só é cada vez mais desigual como a desigualdade se manifesta de modo particular na decomposição dos países mais ricos em capital, como é o caso da Inglaterra” (CATANI, 1982, p. 16).

Lênin (2008, p. 22) define a História da formação dos monopólios em três fases:

  • Anos 1860 – 1880: auge da livre concorrência;
  • Após a crise de 1873: desenvolvimento dos cartéis, porém de forma instável;
  • Expansão do fim do séc. XIX e crise de 1900-1903: os cartéis passam a formar uma das bases do sistema econômico. O capitalismo se transforma em imperialista.

“Os cartéis estabelecem entre si acordos sobre as condições de venda, as trocas, etc. Repartem os mercados entre si” (LÊNIN, 2008, p. 22). Os cartéis passam a determinar o que, quanto, quando e quem deve fabricar, fixam os preços e repartem os lucros entre suas empresas.

Alguns cartéis chegavam a dominar de 70% a 80% da produção de determinados produtos. A superioridade dos trustes em comparação às empresas independentes se fazia clara na grande diferença tecnológica. Enquanto a maior parte das indústrias independentes possuía maquinários rudimentares, os cartéis iam aprimorando cada vez mais sua produção, substituindo gradualmente a produção manufatureira pela produção mecânica (LÊNIN, 2008, p. 24).

Estas diferenças foram caracterizando os anos que se passaram. A concorrência foi gradualmente se transformando em monopólio.

“Daí resulta um imenso progresso na socialização da produção. E, particularmente, no domínio dos aperfeiçoamentos e inovações técnicas. Já não se trata, de modo algum, da antiga livre concorrência entre empresários dispersos que não se conheciam uns aos outros e que produziam para um mercado desconhecido. A concentração chega a um ponto em que torna-se possível fazer um inventário aproximado de todas as fontes de matérias-primas (tais como jazidas de minério de ferro) de um país e mesmo, como veremos, de vários países e até do mundo inteiro. (...) O monopólio da mão-de-obra especializada, os melhores engenheiros; apodera-se das vias e meios de comunicação, das estradas de ferro da América, das sociedades de navegação na Europa e na América. O capitalismo, chegando à sua fase imperialista, conduz à beira da socialização integral da produção; ele arrasta os capitalistas, seja como for, independentemente da sua vontade e sem que eles tenham consciência disso, para uma nova ordem social, intermediária entre a livre concorrência e a socialização integral” (LÊNIN, 2008, p. 25).

Apesar da produção se tornar social, a apropriação continua privada. Os meios de produção sociais continuam nas mãos de um pequeno grupo de proprietários.

Lênin (2008, pp. 25-26) traça os processos das uniões monopolistas:

  • Privação de matérias-primas;
  • Privação de mão-de-obra (através de acordos com os sindicatos);
  • Privação dos meios de transporte;
  • Encerramento de mercados;
  • Acordos de exclusividade de mercado com os compradores;
  • Baixa de preços (para eliminar com a concorrência independente);
  • Privação de créditos e;
  • Boicote.

Não se trata mais de livre concorrência, mas de aniquilamento daqueles que não se submetem aos cartéis – os industriários independentes.

“O monopólio abre caminho em todas as direções e por todos os meios, desde o pagamento de uma ‘modesta’ indenização até o ‘recurso’ (...) da dinamitagem do concorrente” (LÊNIN, 2008, p. 28).

Mas para compreendermos o poderio e o papel dos monopólios necessitamos compreender a função dos bancos.

Os bancos constituem uma das características mais importantes da concentração capitalista (LÊNIN, 2008, p. 31). A substituição do antigo capitalismo (livre concorrência) pelo novo capitalismo (monopolista) tira a importância das bolsas de valor, pois todo banco torna-se uma bolsa.

A nova realidade econômica faz com que se torne mais importante o banco que concentre o maior número de aplicações dos industriários. Pois o crescimento e a concentração dos bancos restringe as opções de acesso ao crédito. O industriário na procura de financiamento torna-se dependente dos grupos bancários. “A estreita ligação entre a indústria e o mundo das finanças restringe a liberdade de movimentos das sociedades industriais que têm necessidade de capitais bancários” (LÊNIN, 2008, p. 40).

A associação entre os bancos e a indústria, nada mais é do que a associação entre o capital financeiro e o capital industrial (CATANI, 1982, p. 18). Desta associação surgem, inevitavelmente, os monopólios. Pois, “a última palavra do desenvolvimento dos bancos é o monopólio” (LÊNIN, 2008, p. 40). Desta associação inevitavelmente o industriário torna-se dependente do capital financeiro, ou seja, a indústria, direta ou indiretamente, torna-se dependente dos bancos (capital financeiro). Muitos dos diretores de banco tornam-se parte dos acionistas das indústrias (CATANI, 1982, p. 24).

O investimento dos bancos no setor industrial faz com que o capital dinheiro inativo se transforme em capital ativo, ou seja, capital que rende lucro (CATANI, 1982, p. 24).

“A ‘união pessoal’ dos bancos e das indústrias é completada pela ‘união pessoal’ de uns e outros com o governo” (LÊNIN, 2008, p. 41). Neste estágio os governos passam a criar políticas que beneficiam os interesses dos trustes e dos cartéis. “Daí resulta uma divisão sistemática do trabalho entre algumas centenas de reis de finanças da moderna sociedade capitalista” (LÊNIN, 2008, p. 41).

Lênin escreve ao final do capítulo “os bancos e a sua nova função” que o antigo capitalismo fez a sua época e o novo capitalismo constitui uma transição. “A procura de ‘princípios rígidos e de um fim concreto’ com vista a ‘conciliar’ o ‘monopólio’ e a ‘livre concorrência’ é, evidentemente, uma tentativa voltada ao fracasso” (LÊNIN, 2008, p. 44). O imperialismo sepultou a livre concorrência.

A virada do século XIX para o século XX é marcada pela hegemonia do capital financeiro sobre o capital em geral, tornando o imperialismo a base estrutural do capital financeiro do início do século XX (CATANI, 1982, p. 39).

“Embora os bancos fossem capazes de mobilizar volumes gigantescos de capital, as tendências persistentes à queda das taxas de lucro no plano doméstico tornaram indispensável encontrar zonas no exterior onde o capital pudesse ser investido em melhores condições” (HUNT; SHERMAN, 2001, p. 161).

A busca por mercados exteriores não era causada pela necessidade de exportar mercadorias, mas pela necessidade de exportar capital – o capital financeiro. Pois “as áreas atrasadas eram cobiçadas porque dispunham de mão-de-obra em abundância e barata, e ofereciam perspectivas lucrativas de investimento” (HUNT; SHERMAN, 2001, p. 161).

Esta busca por mercados exteriores determinou a partilha econômica do mundo pelas potências industriais – Inglaterra, França, Alemanha e EUA. Tal situação era instável, pois as rivalidades nacionais se acirravam. “O imperialismo conduziriam, de modo inevitável, às guerras entre países capitalistas avançados, e a rebeliões e revoluções nas regiões exploradas” (HUNT; SHERMAN, 2001, p. 161).

A era imperialista teria seu auge e crise, como não poderia ser diferente, com a Primeira Guerra Mundial em 1914. Mas somente após a Segunda Grande Guerra as políticas imperialistas ruiriam de vez.


Referências Bibliográficas:

CATANI, Afrânio Mendes. O que é Imperialismo. São Paulo: Brasiliense, 1982.

HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios. 12a.Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J. História do Pensamento Econômico. 20a.Ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.

LÊNIN, V. I. Imperialismo Fase Superior do Capitalismo. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2008.

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