
Quadro Operários de Tarsila do Amaral.
História Livre - História do Brasil - República
Velha / Primeira República
HISTÓRIA ECONÔMICA DO BRASIL NA PRIMEIRA REPÚBLICA:
o
desenvolvimento econômico brasileiro
Marcos
Emílio Ekman Faber, Eduardo Severo e Ismael Wolf Orientador: Dr. André Luís Reis da Silva
Resumo
O objetivo deste artigo é o de analisar
o desenvolvimento histórico-econômico
do Brasil durante a Primeira República
(1889-1930), abordaremos o desenvolvimento nacional
como parte integrante da economia mundial, assim
como o papel periférico de nossa economia
e os saltos desenvolvimentistas que o Brasil
teve de se submeter para seu desenvolvimento
como uma economia capitalista. Nossa base de
argumentação está na hipótese
de que o Brasil, até este período,
era apenas uma colônia de exploração,
tornando-se capitalista somente quando o capitalismo
encontrava-se em sua fase imperialista. Nossa
análise é feita a partir do referencial
teórico marxista, onde adotamos as teorias
econômicas de Caio Prado Junior e Celso
Furtado aliadas à teoria trotskista do
Desenvolvimento Desigual e Combinado. Palavras-chave:
História do Brasil, Primeira República,
História Econômica, Brasil Capitalista.
Introdução
Neste artigo, abordamos o papel do Brasil dentro
da economia mundial durante a Primeira República,
ou seja, o período que inicia com a sua
proclamação em 1889 e vai até
a Revolução de 1930. Deste período
abordamos as transformações que
ocasionaram na mudança do eixo da economia
cafeeira brasileira – e seus investimentos
– para o desenvolvimento da indústria
nacional. Analisamos os motivos que levaram
o Brasil a estar na periferia do desenvolvimento
capitalista mundial, pois o país foi
durante toda sua História mero fornecedor
de matérias primas aos países
de capitalismo adiantado.
Para compreendermos o papel colonial brasileiro,
torna-se necessária à compreensão
do desenvolvimento do capitalismo europeu neste
mesmo período e nos períodos anteriores.
Portanto, é preciso compreender o desenvolvimento
da economia nacional associada ao desenvolvimento
capitalista europeu.
Nossa base de argumentação está
na hipótese de que o Brasil somente tornou-se
capitalista quando o capitalismo se encontrava
em sua fase imperialista, antes disso o país
tinha bases econômicas pré-capitalistas,
vivendo à margem do sistema mundial,
ou seja, estava na periferia do desenvolvimento
econômico europeu. Não acreditamos
num passado feudal brasileiro, tese de Nelson
Werneck Sodré, e nem que tenha havido
um modo de produção Escravista
Colonial, tese de Jacob Gorender. Defendemos,
isso sim, que o Brasil era apenas uma colônia
de exploração à margem
do desenvolvimento capitalista europeu, análise
esta que está de acordo com as interpretações
da primeira geração de historiadores
marxistas brasileiros, como Caio Prado Junior
e Celso Furtado, entre outros. Nossa análise
será fundamentada na combinação
deste referencial teórico e na teoria
trotskista do Desenvolvimento Desigual e Combinado.
Como adeptos do referencial teórico marxista,
percebemos a necessidade de exploramos o tema,
deste que é um período tão
importante para o desenvolvimento econômico
do país e marca a entrada do Brasil no
sistema capitalista. Nossa análise é
fruto da percepção de que o tema
das estruturas econômicas brasileiras
tem sido negligenciado por outras teorias no
estudo do período. Neste artigo pretendemos
dar somente um vôo sobre a Primeira República,
pois somos sabedores de que de forma alguma
estamos esgotando o tema, mas desejamos lançar
um olhar histórico sobre a economia e
o desenvolvimento brasileiro no período
a partir dos já citados referenciais
teóricos.
O Desenvolvimento Econômico Brasileiro
Antes da análise do período proposto
é importante entendermos o desenvolvimento
econômico brasileiro dentro da história
econômica mundial nos períodos
anteriores à Primeira República.
"Quando escrevemos a ‘história
mundial’ dos períodos precedentes,
estamos, na realidade, fazendo uma soma das
histórias das diversas partes do globo,
que, de fato, haviam tomado conhecimento umas
das outras, porém superficial e marginalmente,
exceto quando os habitantes de uma região
conquistaram ou colonizaram outra, como os europeus
ocidentais fizeram com as Américas".
(HOBSBAWM, 2007, p.79 - 80).
A
História do Brasil iniciou dentro da
lógica de acumulação primitiva
de capital, onde a economia brasileira era apenas
uma extensão portuguesa na América.
A ocupação portuguesa se deu através
da exploração de matéria
prima tropical, num primeiro momento com a exploração
e retirada do pau-brasil, depois se desenvolvendo
a economia açucareira.
Até o século XVIII a forma de
capital que dominava a economia mundial era
o capital comercial, somente no virada para
o século XIX o capital industrial se
desenvolverá hegemonicamente. Havendo
uma revolta contra os monopólios e a
quebra definitiva do Pacto Colonial, levando
os Impérios Ibéricos ao declínio.
As metrópoles tornam-se parasitas das
colônias. Pois:
"O antigo sistema colonial, fundado
naquilo que se convencionou chamar Pacto Colonial,
e que representa o exclusivismo do comércio
das colônias para as respectivas metrópoles,
entra em declínio". (PRADO
JUNIOR, 2006, p. 123).
O
domínio do mercado Atlântico passou
definitivamente para as mãos dos ingleses
e o Brasil tornou-se colônia britânica
na América. Os ingleses estavam num estágio
econômico bem mais avançado do
que os portugueses. O mercantilismo, forma de
acumulação pré-capitalista,
havia sido superado pelo capitalismo. A Inglaterra
vivia o período de transição
entre o capital comercial e o capital industrial.
Os resultados destas mudanças não
deixaram de contribuir para o desenvolvimento
econômico brasileiro, sendo “um
primeiro passo nesta grande transformação
que se ia operar no país” (PRADO
JUNIOR, 2006, p. 131).
Os efeitos desta liberdade comercial gerada
pelo estímulo econômico coincidem
com a transferência da coroa portuguesa
para o Brasil, transferência ocasionada
pela ameaça napoleônica ao Estado
Português. A Abertura dos Portos leva
a economia brasileira a um avanço nunca
antes alcançado. A coroa portuguesa,
porém, eleva os gastos da colônia.
A chegada dos nobres ao Brasil gera uma grande
mudança nos hábitos coloniais,
causando uma sofisticação das
elites locais. Estas transformações
geram a elevação dos custos de
importações de produtos de luxo.
Nisso o Brasil viverá em constante déficit
orçamentário que levará
à crise do regime servil e o fim do tráfico
de escravos. Na verdade com o advento do capital
industrial é necessária uma mudança
nas estruturas econômicas coloniais, é
preciso estimular o comércio interno
que só poderá existir com o surgimento
de uma classe de trabalhadores livres, ou seja,
não há lugar para a mão-de-obra
escrava ou servil. Torna-se cada vez mais onerosa
a imobilização de capitais representada
pela aquisição de escravos, o
surgimento de uma classe de trabalhadores livres
é essencial para o desenvolvimento do
capitalismo. A criação de um campesinato
livre e de uma classe proletária, garantirá
a base para o surgimento no Brasil de uma burguesia
nacional capaz de romper com a hegemonia oligárquica
agro-exportadora.
Da segunda metade do século XIX até
o final do Império se caracterizou pela
aurora burguesa, surgirão e se consolidarão
durante este século os ideais burgueses
no Brasil. A grande transformação
se deu na revolução da distribuição
das atividades produtivas (PRADO JUNIOR, 2006).
O renascimento agrícola que fora impulsionado
pela Abertura dos Portos e, posteriormente,
pela emancipação política,
desencadeou o processo de consolidação
dos ideais liberais no Brasil. A crise do açúcar
levou a decadência da força política
das oligarquias do norte e nordeste. O sudeste
foi favorecido com a cultura do café,
artigo que encontrava grande mercado na Europa,
os cafeicultores iniciaram um período
de acumulação de capitais ainda
não visto no país. Aqui cabe um
parêntese, pois é no mínimo
questionável utilizarmos a expressão
“burguesia cafeeira” como alguns
historiadores o fazem, pois se tratava de grupos
aristocráticos rurais, em grande parte
responsáveis pelo acúmulo primitivo
de capital que desencadeou o processo de industrialização,
mas creio que seja mais correto neste momento
caracterizá-los como uma aristocracia
cafeeira, pois o café representou a última
das três grandes aristocracias do país
- senhores de engenho, grandes mineradores e
barões do café. Sem dúvida
os cafeicultores foram de extrema importância
para a industrialização e para
a formação de uma burguesia nacional,
pois mesmo que tenham aderido aos ideais burgueses,
neste estágio, ainda não formavam
uma classe consciente de seu papel.
Mas foi esta classe e com estes ideais que levaram
a pressão pela abolição
e a recrutar-se mão-de-obra na imigração
européia. Estas transformações
elevaram o Estado de São Paulo a dianteira
econômica nacional. O país entrou
em franca prosperidade e ativação
econômica. Esta nova aristocracia ao contrário
das anteriores passou a reinvestir capitais,
principalmente na nascente indústria
brasileira, pois o café era:
"
O produto que permitiria ao país reintegrar-se
nas correntes em expansão do comércio
mundial; concluída sua etapa de gestação,
a economia cafeeira encontrava-se em condições
de autofinanciar sua extraordinária expansão
subseqüente, estavam formados os quadros
da nova classe dirigente que lideraria a grande
expansão cafeeira". (FURTADO,
2007, p. 172).
No
contexto europeu, o desenvolvimento industrial
representou a passagem do capital comercial
para o capital industrial, às antigas
estruturas monopolistas começam a ruir
e a ideologia liberal tomou conta do pensamento
econômico europeu. Como não poderia
ser diferente, o Brasil, periferia da Europa,
adotou o liberalismo como base ideológica
econômica. Serão as idéias
liberais que desencadearão no processo
que levará a queda do Império
e propagará as idéias republicanas
no país. A indústria capitalista
tomou logo tamanho vulto que ofuscou o capitalismo
comercial e assumiu cada vez mais o domínio
da economia européia. Pondo fim aos monopólios
comerciais. (PRADO JUNIOR, 2006, p.124).
A partir de 1850 o Brasil passou a experimentar
um grande surto industrial, onde o país
se urbanizou. Foram instaladas centenas de fábricas,
bancos e diversas companhias de navegação.
O financiamento em geral veio do capital cafeeiro
e do capital financeiro internacional. O Brasil
passou a dar grandes saltos desenvolvimentistas
para aderir ao capitalismo. Porém, a
economia ainda mantinha-se refém do mercado
externo, com a implementação de
políticas que garantissem as exportações
de gêneros primários. A indústria
brasileira, neste momento, produzia basicamente
bens de consumo para trabalhadores, o restante
era importado, principalmente da Inglaterra
(CATANI, 1984, p. 113).
Na virado do século, a indústria
nacional passou para o processo de substituição
das importações. “A fase
da importação de determinado produto
começa quando a economia se diversifica
a ponto de exigi-lo, e termina quando o mercado
cresce tanto que lhe assegura a produção
nacional” (DEAN, 1975, p.267). Segundo
o brazilianista Warren Dean, a origem da industria
brasileira se deu dentro do mercado importador
e exportador, tanto os fazendeiros quando os
importadores tornam-se os primeiros industriários
brasileiros, porém sem deixarem sua atividade
original. No caso dos fazendeiros, em geral,
seus investimentos industriais se davam dentro
do beneficiamento das matérias-primas
que produziam nas fazendas, o que lhes garantia
a valorização dos mesmos (DEAN,
1975, p.268-269).
Na Europa, a virada do século representará
a aurora do imperialismo, o novo estágio
do capitalismo. Rosa Luxemburgo conceituava
o imperialismo como o estágio em que
o capitalismo se apropriava de regiões
ainda não pertencentes ao sistema. (HUNT;
SHERMAN, 2001, p.159). Apesar da Europa voltar
suas atenções para a África
e Ásia, a América mantêm-se
como fornecedora dos bens primários capazes
de fortalecer o desenvolvimento da indústria
européia. No caso brasileiro, havia a
busca por aderir ao sistema mundial, mesmo que
para isso hipotecasse seus ganhos futuros.
Na Europa o ideário liberal entra em
declínio e o capital financeiro dá
inicio a uma nova fase monopolista.
"O período que se estende do
final do século XIX ao princípio
do século XX testemunhou a partilha imperialista
da maior parte das regiões economicamente
subdesenvolvidas do mundo. As populações
dessas regiões foram submetidas à
mais dura e cruel exploração,
em proveito dos lucros das grandes corporações
sediadas nos países capitalistas avançados". (HUNT; SHERMAN, 2001, p.162).
Emir
Sader escreveu que se o colonialismo havia sido
o fenômeno essencial para compreender
a história da humanidade nos séculos
anteriores, o século XX será o
século do imperialismo (SADER, 2000,
p.27). O imperialismo forneceu os elementos
necessários para o desenvolvimento econômico
do Brasil, mas por outro lado, foi acumulando
um passivo considerável e tornou cada
vez mais perturbadora e onerosa sua ação
(PRADO JUNIOR, 2006).
O capitalismo não se desenvolveu naturalmente
no Brasil, antes foi imposto pela associação
das classes dirigentes nacionais e o capitalismo
internacional. Sendo que as classes dirigentes
brasileiras sequer formavam uma burguesia nacional
coesa, eram, na verdade, representantes de grandes
oligarquias rurais que defendiam tão
somente seus próprios interesses. A associação
destes grupos nacionais se realizou com o capitalismo
em sua fase imperialista, ou seja, tratava-se
da associação da oligarquia brasileira
com o capital industrial e o capital financeiro
europeus. O país ficou imerso às
regras deste novo modelo. O modelo de desenvolvimento
imposto ao Brasil previa que o país passasse
pelos mesmos estágios que os países
de capitalismo adiantado já haviam passado.
Na impossibilidade de se desenvolver autonomamente,
coube ao Brasil queimar etapas, dando saltos
desenvolvimentistas para acompanhar seus parceiros
mais desenvolvidos. O país iniciou um
oneroso processo de modernização
e industrialização.
"
(...) não podendo repetir o seu itinerário
anterior: ele ‘salta’, por assim
dizer, as etapas intermediárias do seu
crescimento ‘normal’ e ‘orgânico’,
como o pequeno ofício e a manufatura,
e se manifesta imediatamente em sua figura mais
moderna e avançada: a grande indústria". (LÖWY, s/d, p. 75).
Na
condição de periferia do sistema
mundial, coube ao Brasil somente uma forma de
mudança das estruturas econômicas,
estas modificações estruturais
envolveram a necessidade de dar saltos desenvolvimentistas
para modernizar a economia nacional, o que se
fez possível somente com o advento da
República. Foram instaladas indústrias,
construíram-se estradas de ferro, modernizaram-se
os portos e fundaram-se bancos, porém,
à custa de grande dívida contraída
aos financistas europeus.
"A
economia brasileira, ao instalar-se a República,
encontra-se plenamente integrada ao capitalismo
internacional através da Divisão
Internacional do Trabalho. O modelo agrário-exportador,
baseado na monocultura do café, fazia
do Brasil um país periférico e
dependente do mercado internacional". (VIZENTINI, 1983, p. 12).
A
reestruturação tratou de apressar
o processo de transformação, realizando
a reforma estrutural necessária à
economia brasileira, transformação
inserida na nova realidade internacional, o
país tornou-se definitivamente capitalista.
O capitalismo representou, no Brasil, uma ruptura
nas antigas estruturas colônias, pois
o capital industrial não possui a mesma
lógica do capital comercial. Foram necessárias
várias alterações na estrutura
econômica nacional. Em primeiro lugar
a reestruturação teve que partir
da alteração da mão-de-obra,
como a viabilização e criação
de um proletariado, o que inviabilizava a existência
do trabalho servil. Este problema, como vimos,
foi parcialmente resolvido com a abolição
da escravatura e, posteriormente, com as imigrações
européias. Arias Neto afirma que em sua
maioria a população de ex-escravos
não se viu na necessidade de transformar-se
em força de trabalho, a solução
foi buscada na imigração européia
(ARIAS NETO, 2003, p.201-202). Em segundo lugar,
existe a necessidade de mercados consumidores.
Problema que foi resolvido, em parte, com a
quebra dos monopólios comerciais e com
a restrição das importações,
que foi possível com a implementação
de uma indústria nacional de bens de
consumo (CATANI, 1984). Estas alterações
atingiram diretamente as antigas aristocracias,
principalmente do norte e nordeste, que viram
seu poder econômico reduzido, por isso
tornaram-se, em grande parte, opositores do
novo sistema (PRADO JUNIOR, 2006). Porém,
apesar das transformações ocorridas,
a economia nacional manteve-se refém
do mercado externo, tanto na necessidade de
exportação, principalmente de
bens primários como o café, como
das importações de produtos sofisticados
e da indústria pesada (CATANI, 1984).
O salto desenvolvimentista brasileiro, causado
pela industrialização do país
gerou em um grande êxodo rural, os centros
urbanos cresceram enormemente, surgindo uma
grande massa de trabalhadores assalariados.
Nasceu, nos centros urbanos, um grande exército
de mão-de-obra de reserva. É claro
que estas mudanças geraram as conseqüências
que logo foram sentidas, pois surgiram novas
demandas populares, que desencadearam nas reformas
trabalhistas de Getúlio Vargas nos anos
1930 e, posteriormente, no populismo.
Conclusão
Este artigo pode ser facilmente rotulado de
revisionista e ultrapassado do ponto de vista
teórico. Nós, porém, não
acreditamos que exista outra forma de interpretação
da realidade brasileira. Seria-nos muito fácil
e cômodo fazer uma análise historiográfica
de gênero ou cultural, fragmentando o
conhecimento, mas preferimos nos expor e defendermos
a teoria e tese que acreditamos. É possível,
e provável, que ao longo de nossa jornada
acadêmica venhamos a ter outras posições
teóricas, ou mesmo a combinação
de várias delas, mas esta é a
que defendemos e entendemos como a mais correta
em nosso atual estágio de graduação.
Mesmo assim, não somos tão inocentes
de acreditar que o período que se estendeu
imediatamente após a Revolução
de 1930 viu a hegemonia da indústria
no Brasil, temos consciência de que não
foi tão simples assim. Pois a economia
nacional continuou atrelada ao desempenho exportador
do café, pelo menos até a década
de 1940. Mas acreditamos que foram durante a
Primeira República que a indústria
brasileira deu seus largos saltos para a ascensão
hegemônica na economia do país,
porém sua consolidação
ocorreria somente a partir da década
de 1950. É certo que a Segunda Guerra
Mundial garantiu o “boom” industrial
brasileiro, mas isso somente ocorreu porque
a economia nacional já havia se transformado
em capitalista no período anterior. Sem
a transformação da sociedade brasileira
em uma sociedade burguesa e sem a criação
do proletariado nacional, seria impossível
o salto econômico dado pelo país
nas décadas seguintes.
É por isso que acreditamos que é
impossível, do ponto de vista teórico,
uma análise econômica do país
sem compreendermos o desenvolvimento capitalista
mundial e suas influências nas zonas periféricas,
no caso o Brasil. Desta forma acreditamos que
o Brasil deixou de ser uma colônia de
exploração a partir do momento
que entendeu ser necessário dar saltos
desenvolvimentistas em direção
à implantação do capitalismo
no país. Este salto, porém, não
foi um salto da classe burguesa recém
organizada, mas um salto desenvolvimentista
dado pelo país como um todo, é
claro, estando sob a liderança da burguesia,
num primeiro momento aliada ao exército
e depois sozinha. Este processo desenvolvimentista
não iniciou de uma hora para outra, se
iniciou ainda durante o Segundo Império,
assim como se tornou hegemônico somente
na Era Vargas. Porém, estamos convencidos
de que o desenvolvimento econômico e as
transformações sociais que possibilitaram
tal reestruturação se fizeram
presentes na Primeira República.
Porto
Alegre, 06 de junho de 2008.
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