
As transformações e as exigências do mundo pós-moderno: Somos reflexo do que consumimos?
História Livre - História Contemporânea - Globalização
DO MUNDO MODERNO AO PÓS-MODERNO
Resumo do texto de
Paulo Fagundes Vizentini
Marcos
Emílio Ekman Faber
O
comprometimento dos EUA como líder
do mundo capitalista começou a afetar
a capacidade econômica do país,
em meio a um mundo que se tornava complexo
e tendia a bipolaridade. Paralelamente a tentativa
de retomada da supremacia norte-americana
a partir da articulação de uma
nova geometria do poder mundial, os EUA lançam
um movimento de reestruturação
da economia global (plano geográfico,
produtivo e organizativo). Esse duplo movimento
de reafirmação e inovação
acabará afetando os fundamentos da
ordem internacional, com desdobramentos imprevisíveis.
Anos 70: Crise, Multipolaridade e
Revoluções
Durante os anos 60, começou a manifestar-se
o desgaste da hegemonia norte-americana. Países
da Europa Ocidental (nucleados pela Alemanha)
e o Japão alcançaram e ultrapassaram
os EUA em vários ramos da economia.
Os EUA demonstravam dificuldades em desempenhar
o papel de polícia do mundo livre.
Revolução Cubana e Guerra do
Vietnã geraram graves crises na política
social interna dos EUA. A sobrecarga gerada
pelas guerras periféricas sobre a economia
americana, era sintoma de um problema de dimensão
estrutural: a crise do modelo de acumulação
do Pós-Guerra, assentado no paradigma
fordista keynesiano.
O capitalismo baseado em indústrias
motrizes (automóveis, etc.) encontra
seus limites, por razões como a rigidez
produzida pela exigência político
ideológica de garantir pleno emprego
e conceder aumentos salariais reais continuamente,
o que levou ao declínio do crescimento
econômico e dos lucros.
O tipo de indústria baseado no amercan
way of life requeria investimentos de porte
cada vez maior (urbanização
e a construção de infra-estruturas
rodoviárias e de serviços).
É preciso salientar que a divisão
internacional do trabalho então existente
tornava-se um entrave para o desenvolvimento
deste modelo.
Para enfrentar esses problemas, os EUA desencadearam
uma contra ofensiva estratégica: no
campo político-ideológico; no
campo diplomático-militar; e no econômico-financeiro-tecnológico.
No campo ideológico, o Clube de Roma
(ONG) passou a pregar o esgotamento dos recursos
naturais e das formas de energia não-renováveis,
assim como o crescimento demográfico.
Era a defesa do crescimento zero = movimentos
ecológicos e controle demográfico.
No campo diplomático-militar, os EUA
buscaram alianças com a China e repassou
tarefas militares de segurança à
aliados regionais.
No campo econômico, Nixon decretou o
fim da paridade do dólar com o ouro
e adotou medidas protecionistas (para recuperar
a competitividade econômica americana).
Resultou no aumento do preço do petróleo
(com apoio da OPEP – maioria dos países
da OPEP era parceiros dos EUA), isso levou
ao aumento do preço das matérias
primas e dos alimentos. Os EUA eram os principais
fornecedores desses gêneros e importavam
somente 10% do petróleo do Oriente
Médio. Quem realmente sentiu a crise
foram os Estado Europeus e o Japão
(que não produziam petróleo).
Isso foi a causa da crise dos anos 70’ e não
o que virá em seguida.
Em 1973, como conseqüência da Guerra
do Yom Kippor, os árabes quadruplicaram
o preço do petróleo e decretaram
embargo aos aliados de Israel. Novamente,
Europa e Japão eram atingidos.
O aumento do preço do petróleo,
alimentos e matérias primas, deixaram
os EUA em nítida vantagem na corrida
pela reestruturação econômica.
Países do Terceiro Mundo também
se beneficiaram podendo desempenhar papéis
de potências locais com os quais os
EUA dividiam as tarefas de defesa. A URSS
e seus aliados também desempenharam
um importante papel no período.
A reorganização da economia
e do modelo fordista de produção
e acumulação de capital só
poderia ser mantida através da transferência
e da concentração de recursos
em determinados pólos. Pode-se observar
que o Terceiro Mundo passou a financiar cada
vez mais o novo salto econômico do Norte.
E a URSS foi tragada pelo redemoinho econômico.
A Perestroika não surgiria por acidente.
A aproximação EUA-China atendia
a objetivos político-diplomáticos.
Os EUA procuravam reduzir os gastos militares
no Vietnã, então buscou na China
o aliado para neutralizar o Vietnã
do Norte (Doutrina de Guam) em troca cedeu
a China uma cadeira definitiva no Conselho
de Segurança da ONU. Por outro lado,
os EUA oferecia a URSS a manutenção
da détente e uma compensação
econômica, que viria a favorecer os
próprios EUA, pois Moscou forneceria
matérias primas e petróleo em
troca de adquirir tecnologia e capitais e
produtos de consumo. Assim os soviéticos
foram gradualmente abertos e vinculados à
economia capitalista internacional.
Houve a transformação da bipolaridade
para uma tríade (EUA, URSS e China).
O novo contexto ficava marcado pela multipolarização
e pela propagação da recessão
em conseqüências da crise do petróleo
no Terceiro Mundo. Essa conjuntura favoreceu
movimentos de libertação (socialistas,
comunistas e nacionalistas) em países
atrasados (anos 70’).
Esses movimentos foram apoiados pela concretização
da aliança Moscou-Havana. A URSS pretendia
estabelecer regimes aliados em áreas
estratégicas dos EUA, para buscar equilíbrio
compensatório à aliança
EUA/China. Angola, Etiópia, Vietnã,
Nicarágua, Irã e Afeganistão,
mais de uma dúzia de revoluções
anti-imperialistas, sendo algumas socialistas.
Isso somado à queda das ditaduras na
Europa (Portugal, Espanha e Grécia)
abalaram a economia mundial. (Década
de 70’).
Na América Latina a radicalização
das esquerdas fez com que a direita implantasse
ditaduras baseadas na Doutrina de Segurança
Nacional. Os Regimes de Segurança Nacional
tinham duas características semelhantes:
o esmagamento do movimento popular contestatório
(acabando com a estrutura sindical e das organizações
de esquerda, medidas que visavam acabar com
a oposição às novas estruturas
econômicas) e o estabelecimento de novos
padrões de acumulação
(abertura do comércio, capital internacional,
concentração da renda). Somente
o México e a Venezuela (graças
ao petróleo) conseguiram manter políticas
reformistas e uma diplomacia autônoma.
A crise econômica, interna e externa,
requeria um amplo processo de reestruturação,
no qual as tensões sociais seriam grandes,
enquanto o Terceiro Mundo tornava-se imprevisível,
a URSS ostentava uma posição
internacional de aparência cada vez
mais sólida. Os EUA preocupavam-se
em como resolver tais problemas sem alterar
os fundamentos do sistema.
A Reestruturação Econômica
e a Revolução Científico-Tecnológica
Os EUA largavam em vantagem, porém
a crise sobre o Japão e a Europa os
obrigava a um esforce de reestruturação
da economia.
O primeiro passo foi atacar a organização
do trabalho (resistência à mudança
e autos salários) ao lado de fatores
que limitavam o crescimento da produtividade
e geravam uma queda da taxa de lucro e da
mais-valia.
Introdução do trabalho temporário,
técnicas de relações
humanas e equipes de trabalho, resolveram
parcialmente o problema. O Capital elaborou
estratégias de resolver à queda
da taxa de lucro: a inflação,
redução de salários e
utilização de trabalho imigrante
(operário-massa multinacional).
A nova divisão internacional do trabalho
constitui uma manifestação do
crescente concorrência internacional
que caracteriza o processo de reestruturação
do capitalismo. Reestruturar-se significava
tornar-se competitivo. Competitividade passava
a ser o motor da globalização
(assim como fora no início do século
XX o progresso e após a IIGM o desenvolvimento)
Competitividade significava alcançar
maior produtividade. Maior emprego de tecnologia.
Configurava-se a Revolução Científico-Tecnológica
(RCT) fundamental ao processo de globalização.
A adoção da RCT representava
uma decisão político-estratégica.
Redimensionar a acumulação de
capital (esvaziando conquistas trabalhistas,
manter a dependência das nações
periféricas e anular os avanços
produtivos do campo socialista). Geravam-se,
assim, as estruturas da Globalização.
Os centros capitalistas impulsionavam o avanço
da RCT (informática, comunicação,
biotecnologia, robótica, supercondutores,
etc.). A RCT desencadeia uma mudança
estrutural na produção.
As melhorias na tecnologia são sentidas
nas fábricas. Pode-se controlar os
ritmos da produção sem a necessidade
de acumular estoques, limitando a produção
ao consumo.
Durante os anos 70’ a URSS não precisou
fazer grandes esforços (grandes reservas
naturais de energia e matéria prima).
Já o Japão precisou investir
em alta tecnologia para poder competir. Nos
anos 80’ (política Guerra nas Estrelas)
Reagan transformou a RCT numa guerra pela
supremacia internacional.
Globalização e Neoliberalismo
Globalização: “o aumento do
comércio internacional num percentual
superior ao aumento da produção
dentro dos países”, “a internacionalização
do capital financeiro” ou “a mundialização
da produção industrial, segmentada
por diferentes países”. Gerando um
impulso na concorrência e tem sido dinamizada
pela RCT.
A globalização é um fenômeno
de abertura simultânea das economias
nacionais, porém, seletiva, pois visa
a determinadas regiões, atividades
e segmentos sociais a serem integrados mundialmente.
A nova divisão internacional da produção
constitui um elemento estrutural no processo
de reestruturação do capitalismo
em crise. Passa-se a industria originada na
I e na II Revolução Industrial
para a periferia onde as leis trabalhistas,
os salários, o controle fiscal e preocupação
com a poluição são menores.
Essas transferências das indústrias
atendem à competição
entre as potências capitalistas.
Os resultados obtidos são satisfatórios
(médio prazo).
As áreas que recebem essas indústrias
são sobretudo pequenos Estados (Costa
do Marfim, Taiwan e Coréia do Sul)
ou microestados (Hong-Kong, Cingapura e Ilhas
Maurício), subdesenvolvidos e superpovoados
ou zonas francas (por exemplo: Manaus no Brasil)
ou em fronteiras economicamente estratégica
(México para os EUA). Aqui ocorre uma
distinção entre países
que se tornaram plataformas estrangeiras e
países que adotaram uma plataforma
desenvolvimentista, os Novos Países
Industrializados = NPIs (ex. Tigres Asiáticos).
Os países desenvolvidos tornam-se sociedades
pós-industriais, polarizando-se como
em novos segmentos de tecnologia avançada
e alta lucratividade, além de centros
financeiros. A contradição destes
países foi o aumento do desemprego.
Pois as transferências atingiram outro
de seus objetivos: golpear o movimento operário
das nações de capitalismo avançado.
Greves e manifestações mostraram-se
inúteis.
As economias centrais apresentaram um crescimento
moderado, ou entraram em estagnação.
O esgotamento do Estado de Bem-Estar Social,
a recessão e o desemprego dos anos
70’ tiveram como resultado a desmoralização
da Social-Democracia e a reversão da
política generosa de imigração
nos países do Norte.
Para os teóricos neoliberais, a crise
dos 70’ foi decorrente dos aumentos de salários
e gastos sociais do Estado, a solução
seria a redução das funções
deste, que passaria a estabilização
monetária. Essa política foi
buscada pela redução dos gastos,
limitação da emissão
monetária, redução de
impostos, privatização, aumento
da taxa de juros e liberalização
dos controles financeiros e comerciais internos
e externos.
O neoliberalismo atingiu seus objetivos-meio
(impostos caíram, inflação
controlada, regulamentações
financeiras, sindicalismo em retrocesso, desemprego
estrutural, privatizações e
limitação dos gastos sociais).
Já os objetivos-fim tiveram resultados
decepcionantes (retomada do crescimento estável,
eliminação dos déficits,
surgimento de um sistema comercial especulativo,
evasão fiscal, etc.). Os gastos militares
e de segurança interna tem impedido
muitos governos de equilibrarem suas contas.
Anos 80: Nova Guerra Fria e Reação
Neoconservadora
Essas transformações levaram
a uma grande incerteza dos meios conservadores.
Em 1978, os conservadores americanos conseguiram
recuperar-se (fracasso no Vietnã) e
elegeram a maioria do Congresso, obrigando
o governo Democrata (Jimmy Carter) a mudar
sua política. Foi aprovado o aumento
do orçamento militar e a fabricação
da bomba de nêutron, apoio a guerrilha
afegã, criação da Força
de Deslocamento Rápido, a instalação
dos mísseis na Europa, reequipamento
da OTAN e a não ratificação
dos acordos da SALT II sobre a limitação
de armas nucleares. Essas políticas
resultaram na eleição do Republicano
Ronald Reagan em 1980. Na Inglaterra o poder
estava centrado em Margareth Thatcher, dando
início a emergência da direita
na Europa.
Reagan deu inicio a corrida armamentista (Programa
Guerra nas Estrelas) encerrando a détente.
A Nova Guerra Fria consistia no seguinte:
EUA amamentava-se e se colocava com superioridade
sobre a URSS, abalando a economia deste país.
Moscou, debilitado, limitava seu apoio às
revoluções no Terceiro Mundo,
para que os EUA reduzissem sua pressão
militar. A partir disso os EUA e seus aliados
poderiam esmagar os regimes revolucionários
da década anterior. Os EUA buscavam
aliados militares, pois, assim dividiria as
despesas destas ações.
Os EUA agiam no Terceiro Mundo com os conflitos
de baixa intensidade, limitava-se a enfraquecer
e/ou derrubar regimes revolucionários
no poder (os contras na Nicarágua,
UNITA na Angola, etc.). E por outro lado,
os EUA, apoiavam regimes de direita para evitar
as guerrilhas (El Salvador, Guatemala, Namíbia,
Filipinas, etc.).
Essa ações sangraram os cofres
revolucionários no Terceiro Mundo,
bloqueando qualquer possibilidade concreta
de sua transição social. Já
a URSS, acuada, procura adaptar-se a nova
realidade com a Perestroika, oferecendo facilidades
econômicas e o abandono aos seus aliados
terceiro-mundistas em troca de acordos comerciais,
financeiros e de desarmamento.
Nas sociedades pós-industriais aderiam
às políticas neoliberais. No
Terceiro Mundo o neoliberalismo era imposto
através de acordos via FMI e do Banco
Mundial (políticas de combate a inflação,
déficit público, privatizações,
etc.). Já países que evitaram
políticas neoliberais ortodoxas são
os que mais cresceram (Suécia, Dinamarca,
Noruega, Suíça e Ásia
Oriental).
Partidos de direita e extrema direita passam
a emergir em várias regiões.
A Social-Democracia é forçada
a aderir à política neoliberal.
As forças conservadoras passam a estimular
os conflitos raciais e o desprezo pelos povos
do Terceiro Mundo.
No mundo todo crescem as publicações
de astrologia, misticismo, o cinema catástrofe
e a violência dos “Rambos” e os fundamentalismos
religiosos. Assim como crescem as doenças
e epidemias: AIDS, cólera, vírus
ebóla, etc. No meio intelectual as
grandes generalizações são
substituídas por uma postura fragmentária
e relativista quanto à realidade. Também
é uma característica do período
o aumento da criminalidade.
No plano político-ideológico,
a nova direita substitui a bandeira dos direitos
humanos pela defesa da democracia e do combate
ao narcotráfico e ao terrorismo.
A “democracia como valor universal” era também
uma arma ideológica contra os países
socialistas e os jovens Estados revolucionários
do Terceiro Mundo. Estes, além de “anti-democráticos”,
também era acusados de práticas
terroristas, mácula que atingia igualmente
os movimentos revolucionários e/ou
de libertação nacional. O antiterrorismo
permitia criar um clima de histeria pra manipular
a opinião pública, assim legitima
a agressão a eles.
Além dos conflitos de baixa intensidade,
os EUA desenvolveu uma estratégia contra
as demandas do Sul através de fóruns
como a ONU, UNESCO, Grupo dos 77, Movimento
dos Países Não Alinhados, mas
também através da Crise da Dívida,
da gradativa eliminação dos
acordos multilaterais, reunião do G-7
(1985) e fim do Diálogo Norte-Sul.
Tratava-se de um contra-ataque das nações
capitalistas. A peça chave de todo
esquema estratégico era o projeto da
IDE (Guerra nas Estrelas), que acabou produzindo
a derrocada da URSS.
Resumo de:
VIZENTINI, Paulo Fagundes. Dez Anos que Abalaram o Mundo: Política Internacional de 1989 a 1999. Porto Alegre: Novo Século.
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