Em
2006, o ultraconservador Jean-Marie Le Pen,
candidato à presidência da República
na França pela Frente Nacional, apareceu
com um discurso onde defendia uma França
dos franceses, ou seja, sem negros, sem orientais,
sem árabes e sem estrangeiros.
Le Pen defendia uma França nascida da
aliança entre Clóvis, rei dos
Francos, e a Igreja Católica Apostólica
Romana. Para ele, ser francês é
descender desta aliança, portanto, Le
Pen defendia que os “novos franceses”, principalmente
imigrantes das ex-colônias não
deveriam ter acesso à cidadania francesa.
Neste mesmo ano, aconteceu a Copa do Mundo da
Alemanha.
Como sempre, existia muita esperança
de que a seleção brasileira vencesse
essa copa. Na verdade, para a grande maioria
da crítica brasileira, havia a certeza
de que o Brasil seria o campeão.
Alguns críticos chegavam a apontar àquela
seleção como a maior desde o escrete
de 1970. Chegaram a comparar Ronaldinho Gaúcho
a Pelé.
O “quarteto mágico” formado por Kaká,
Ronaldinho Gaúcho, Adriano ‘Imperador’
e Ronaldo ‘Fenômeno’ era apontado como
imbatível. Alguns exaltados chegavam
a defender um “quinteto mágico” com o
acréscimo de Robinho. Esses críticos
esqueciam que futebol, como tudo na vida, necessita
de equilíbrio, portanto, faltavam volantes
àquela seleção.
Deu no que deu! A seleção brasileira
não jogou nenhuma partida bem, na verdade
jogou muito mal em todos os jogos e acabou sendo
eliminada pela França de Zinedine Zidane,
Lilian Thuram e Thierry Henry.
Como sempre se buscou um culpado para a derrota.
Afinal, “o Brasil é tão superior
aos demais que quando perde, perde para si mesmo”,
se a frase não fosse absurda, seria cômica.
A caça às bruxas elegeu o ala-esquerda
Roberto Carlos como o culpado pela eliminação.
Diversos veículos de comunicação
destinaram grandes espaços de seus preciosos
horários para discutir os motivos da
eliminação brasileira na copa.
Notícias sobre a eleição
presidencial, que ocorreria em poucos meses,
como de costume, foi deixada para depois da
Copa. Afinal, se tradicionalmente o ano no Brasil
inicia após o carnaval, em ano de copa,
o ano começa em julho.
Mas sobre a frase entre aspas no título
desta coluna, ela é do jogador de futebol
francês Lilian Thuram, membro da seleção
francesa, e sintetiza o real lugar do futebol
em nossa sociedade, ou seja, o futebol não
é tão importante quanto se pensa!
Ao ser questionado por um jornalista se ele
estava preocupado com a partida com o Brasil,
que ocorreria no dia seguinte, Thuran respondeu
“Preocupado mesmo, eu estou com o Le Pen!”,
ou seja, futebol, um esporte, é apenas
entretenimento, o importante mesmo é
o que será de nosso país.
A resposta de Thuram (que é negro, nasceu
em Guadalupe, distrito ultramarino francês
no Caribe) endereçada ao candidato Le
Pen, simboliza uma luta ideológica que
ocorre na França ainda hoje, entre os
que defendem uma França histórica
herdeira do Império Merovíngio
(fundado pelo rei Clóvis I, século
VI) e os que defendem uma França histórica
herdeira da Revolução Francesa
de 1789. Enquanto o primeiro grupo exclui os
que não são etnicamente herdeiros
deste passado, o segundo, defende que todos
os franceses são iguais, pois o lema
dos revolucionários ‘Liberté,
Egalité, Fraternité” (Liberdade,
Igualdade e Fraternidade) garante a todos os
franceses os mesmos direitos, para os integrantes
deste grupo, os seguidores de Le Pen são
resquícios de uma França que não
existe mais desde a Revolução
de 1789 e que, portanto, devem ser combatidos
por representarem um perigo à República
francesa.
Se para Thuram, a partida de quartas-de-final
contra o Brasil era menos importante do que
o embate político francês, no Brasil
ocorria o contrário, aqui a política
era deixada de lado para que se discutissem
os motivos da prematura eliminação
do país da Copa de 2006.
Discussão inútil, pois se nós
brasileiros fossemos menos arrogantes no que
se refere ao futebol, não buscaríamos
os motivos da eliminação dentro
do Brasil, mas sim, na seleção
francesa, que na verdade era muito melhor do
que a nossa. Assim como Zidane era melhor do
que os 5 mágicos brasileiros, que de
mágica mesmo somente fizeram o futebol
do time desaparecer.
Hoje, fevereiro de 2011, se discute a mesma
coisa com a prematura eliminação
do Corínthians da Libertadores da América,
curiosamente com Roberto Carlos e Ronaldo ‘Fenômeno’
no centro das discussões. Mas o que ninguém
faz é discutir a rede de corrupção
que se eterniza no comando do clube paulista
à décadas.
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