Arca de Noé. Imagem do Filme Noé (Noah, EUA, 2014).
História Livre - História Antiga - História
Bíblica
A
HISTÓRIA DO DILÚVIO:
DILÚVIO UNIVERSAL OU LOCAL?
Marcos
Emílio Ekman Faber
Introdução
Quase
todas as crenças religiosas da antigüidade
possuem um mito relacionado ao dilúvio. Até
o século XIX, o dilúvio era considerado
como verdadeiro, porém com o avanço
tecnológico e científico o homem
iniciou um processo de descrença neste
ocorrido. Porém, a geologia contemporânea
comprova que ocorreu na região do Crescente
Fértil um dilúvio que abrangeu,
no mínimo, todo o mundo conhecido da época.
O
Dilúvio
Não
se sabe exatamente qual a origem da História do
Dilúvio, porém esta história
é representada das mais diversas formas
por boa parte das civilizações
conhecidas.
"Supõe-se
que a idéia de dilúvio seja baseada
na lembrança de alguma catástrofe
produzida por inundações. Essa
noção, porém, surge sempre
como um castigo divino à maldade, vícios
e devassidões a que se entregavam os
homens." (Dicionário de Mitologia
greco-romana, São Paulo: Abril Cultural,
1973).
O
dilúvio na mitologia greco-romana
A
mitologia greco-romana nos conta a história
de Deucalião e Pirra, os sobreviventes
do dilúvio imposto por Zeus com o propósito
de exterminar a raça humana.
Segundo esta tradição, Deucalião
reinava sobre a Tessália na Idade do
Bronze, época em que o homem estava muito
degenerado, entregando-se a vícios e
maldades. Zeus, para castiga-los, decidiu destruir
a raça humana através de uma dilúvio.
Deucalião, porém recebe orientação
de seu pai, conhecedor das pretensões
de Zeus, e constrói uma embarcação
onde fica com a mulher Pirra durante a inundação>
Segundo esta história, a Terra inteira
é submergida e seus habitantes mortos.
Deucalião e Pirra ficam nove dias e nove
noites encerrados na embarcação,
no décimo dia desembarcam no monte Parnaso.
Zeus perdoa os dois sobreviventes lhes concedendo
a realização de um pedido, os
dois pedem pelo repovoamento da Terra, Zeus
ordena-os que joguem por atrás de si
os ossos de suas mães, os dois jogaram,
então, para de atrás de si pedras,
que representam os ossos da mãe Terra,
das pedras lançadas por Decalião
nascem homens e das pedras lançadas por
Pirra nascem mulheres, estes repovoaram a Terra.
O dilúvio na mitologia Maia
A
América também possui seu mito
sobre o dilúvio, a mitologia Maia descreve
na história do Popol Vuh onde é
narrada a história de um dilúvio
que dizimou a raça humana.
"Segundo
o Popol Vuh, o mundo era um angustiante nada,
até que os deuses - o Grande Pai e a
Grande Mãe, um criador, a outra fazedora
de formas - resolveram gerar a vida. A intenção
de ambos era serem adorados pela própria
criação. Primeiro, fizeram a Terra,
depois, os animais e, finalmente, os homens.
Estes, inicialmente, foram criados de barro.
Como não deu certo, o Grande Pai decidiu
retirá-los da madeira. Porém,
os novos homens, apesar de ativos, eram vaidosos
e frívolos, obrigando o Grande Pai a
destruí-los em um dilúvio."
(Enciclopédia Encarta, Microsoft Corporation,
2001)
O
dilúvio na mitologia Suméria
O
mito sumério de Gilgamesh nos conta os
feitos do rei da cidade de Uruk, Gilgamesh,
que parte em uma jornada de aventuras em busca
da imortalidade, nesta busca encontra as duas
únicas pessoas imortais: Utanapistim
e sua esposa, estes contam à Gilgamesh
como conquistaram tal sorte, esta é a
história do dilúvio. O casal recebeu
o dom da imortalidade ao sobreviver ao dilúvio
que consumiu com a raça humana.
"Tudo
começou na antiga cidade de Shurupak
às margens do rio Eufrates nessa cidade
viviam os deuses: Anu, deus do céu, Enlil,
seu conselheiro, e também o supremo deus
Ea. Naqueles dias, a Terra fervilhava, o povo
se multiplicava e o mundo a mugir como touro
selvagem (...) os deuses irritaram-se com este
barulho. Enlil foi logo reclamar na Assembléia
dos deuses: 'É um tumulto intolerável.
Ninguém mais consegue dormir com essa
balbúrdia dos homens'. E foi assim que
eles, os deuses, decidiram exterminar a raça
humana."(TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de
Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
Na
tradição suméria, o homem
foi dizimado por encomodar aos deuses, mas segundo
este mito, o deus Ea, por meio de um sonho,
apareceu a Utanapistim e lhe revelou as pretensões
dos deuses de exterminar com os humanos através
de um dilúvio.
"Homem
de Shurupak, derruba tua casa e constrói
um barco. Abandona tuas posses e salva tua vida.
Renuncia aos bens terrenos e conserva coração
puro." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de
Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
Dos
mitos sobre o dilúvio, sem dúvida,
a história do encontro entre Utanapistim
e Gilgamesh é o que mais se assemelha
a história bíblica de Noé
e o dilúvio. Até mesmo a questão
moral está presente, quando o deus Ea
pede a Utanapistim que renuncie aos bens materiais
e conserve o coração puro, mas
as semelhanças não param por ai.
"O
barco que deves construir deve ter a mesma largura
e comprimento, o convés coberto, tal
como uma abóbora, e leva então
para dentro do barco sementes de todas as coisas
vivas." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de
Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
É
muito semelhante a questão da preservação
das espécies, citada na história
bíblica, onde Utanapistim deve levar
no barco sementes de todas as coisas vivas.
Utanapistim reúne sua família
e constrói a embarcação
que lhe foi ordenada por Ea, estes ficam por
sete dias debaixo do dilúvio que consome
com os humanos.
"Eu
percebi que havia grande silêncio, não
havia um só ser humano vivo além
de nós, no barco. Ao barro, ao lodo haviam
retornado. A água se estendia plana como
um telhado, então eu da janela chorei,
pois as águas haviam encoberto o mundo
todo. Em vão procurei por terra, somente
consegui descobrir um montanha, o Monte Nisir,
onde encalhamos e ali ficamos por sete dias,
retidos. Resolvi soltar uma POMBA, que voou
para longe, não encontrando local para
pouso retornou (...) Então soltei um
corvo, este voou para longe encontrou alimento
e não retornou." (TAMEN, Pedro.
Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed.
Ars Poetica, 1992.)
A
história contada por Utanapistim é
muito semelhante a descrita na Bíblia.
O descontentamento divino frente as maldades
e perversões humanas levando a divindade
ao arrependimento pela criação
dos homens e automaticamente a destruição
destes através de um dilúvio.
A história bíblica do dilúvio
A
história bíblica do dilúvio,
a história de Noé, nos mostra
um Deus descontente com as imprudências
humanas, Deus resolve destruir os homens, porém
poupa Noé sua esposa e três filhos
com as respectivas esposas. A história
do dilúvio bíblico conta que Deus
ordena a Noé que construa uma arca e
que deve convocar um casal de todos os animais
viventes para que sobrevivam ao dilúvio.
"De
tudo que vive, de toda carne, dois de cada espécie,
macho e fêmea, farás entrar na
arca, para os conservares vivos contigo."
(Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Atualizada,
Sociedade Bíblica do Brasil.)
Como
nos conta a história bíblica,
Noé e sua família ficam quarenta
dias e quarenta noites debaixo de chuvas, toda
a espécie humana é destruída,
sobrando somente os tripulantes da arca. Quando
sai da arca, Noé firma uma aliança
com Deus, onde este promete que nunca mais haverá
outro dilúvio igual.
Os
assírios e o dilúvio
O
Dicionário da Bíblia John D. Davis,
afirma que nos registros assírios que
enumeram os antigos reis da Assíria,
apontam que estes governavam "após
o dilúvio", também afirma
que em registros do rei Assurbanipal, este refere-se
a inscrições anteriores ao dilúvio.
A
versão científica do dilúvio
Segundo
a geologia moderna, o dilúvio realmente
ocorreu na região do Crescente Fértil,
porém não há comprovação
de sua extensão global. Geólogos
afirmam com base em estudos da erosão
e das marcas geológicas que o dilúvio
teria ocorrido em escala local, porém
abrangendo todo mundo conhecido da época.
Onde haviam civilizações, houve
o dilúvio. Mas como explicar que uma
cultura tão distante como a Maia tenha
incorporado tal história em sua carta
de mitos. Teria sido o dilúvio mundial?
"Há
evidência muito forte, fora do livro de
Gênesis, com respeito à destruição
da raça humana, cuja única exceção
é uma família. Inúmeras
tribos selvagens, espalhadas pelo mundo, conservam
a tradição de um dilúvio.
Existem possíveis registros arqueológicos,
como tantas evidências diretas de um dilúvio."
(Bíblia Shedd).
A
revista Super Interessante em sua edição
de maio de 1995, afirma que não existem
dúvidas sobre a ocorrência do dilúvio,
porém não se pode definir a extensão
precisa deste ocorrido, o que se pode afirmar
é que ele abrangeu todo mundo conhecido
da época.
Mas sobre histórias mitológicas
como a dos Maias, não há estudo
que aponte sua relação como o
dilúvio dos povos do antigo Fértil
Crescente, o que se pode afirmar é que
pode ser uma coincidência ou então
uma tradição trazida com os primeiros
a chegarem a América. Esta última
é a versão mais aceita no meio
científico.
Sobre o dilúvio, não restam dúvidas,
ele ocorreu realmente, porém, quanto
a sua extensão, não se pode afirmar
nada de concreto, mas segundo a arqueologia
e a geologia contemporâneas, este ocorreu
somente na região do Fértil Crescente,
o que era, então, o mundo conhecido da
época.
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