O
GOVERNO SARNEY E OS ANTECEDENTES DO MERCOSUL
Ademir José Knakevicz Grzesczak
Carina da Rosa Moreira
Vera Margarete Figueira Ferraz
Resumo
Este artigo analisa a política
externa no período do governo Sarney,
buscando identificar continuidades e rupturas
em relação ao período
anterior, principalmente trazendo aquilo
que esse governo nos proporciona de avanços
em relação à integração
do Cone Sul. Partindo de uma análise
da política interna brasileira
e do momento da redemocratização,
encontra-se nesse processo um dos fatores
fundamentais que possibilitaram ao Brasil
estabelecer relações de
cooperação com a Argentina
na década de 1980, partindo para
o Mercosul a partir de 1991.
Palavras-Chave: Integração.
Mercosul. Política Externa.
1
Introdução
Este artigo tem como objetivo identificar,
no governo Sarney (1985-1990), as relações
do Brasil com a América do Sul,
como base para a formação
do Mercosul. Para tanto, iniciamos o artigo
destacando os principais acordos anteriores
à década de 1980, em seguida
tratando dos fatores que levaram a aproximação
do Brasil com a América do Sul
no referido governo. Por fim, destaca-se
a aproximação Brasil-Argentina
como a base para a formação
do Mercosul.
Antes de darmos início o tema,
é necessário rever de que
maneira José Ribamar Ferreira de
Araújo Costa mais conhecido como
José Sarney, chegou à presidência
e algumas de suas medidas na política
interna. Ele foi eleito vice-presidente
da República na chapa de Tancredo
Neves, em uma eleição indireta,
superando Paulo Maluf. Como vice-presidente,
assumiu a presidência em 15 de março
de 1985, pois Tancredo estava doente,
acabando por falecer em 21 de abril, levando
Sarney a tornar-se presidente da República.
Sua posse foi cheia de complicações,
pois havia dúvidas constitucionais
sobre se era Sarney ou o presidente da
Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães,
quem deveria assumir a presidência.
Foi contundente para sua posse o apoio
do general Leônidas Pires Gonçalves,
indicado por Tancredo Neves para Ministro
do exército. Seu mandato caracterizou-se
pela solidificação da democracia
e por uma grave crise econômica,
que evoluiu para um quadro de hiperinflação.
Também existiram acusações
de corrupção nas esferas
do governo. Sarney fez uma política
econômica considerada heterodoxa,
sendo que entre as medidas de maior destaque
está o Plano Cruzado (1986) que
determinou o congelamento geral de preços
por doze meses e a adoção
do "gatilho salarial". (SCHIDT,
2002, p. 291). Inicialmente esta medida
econômica teve efeito na contenção
dos preços e no aumento do poder
aquisitivo da população,
mas o Plano Cruzado foi perdendo sua eficiência,
acontecendo uma grave crise de abastecimento,
com a cobrança de ágio disseminada
entre fornecedores, assim levando à
volta da inflação. O governo
manteve os congelamentos até as
eleições estaduais de 1986,
tentando obter os maiores dividendos políticos
possíveis do plano.
Mas o governo Sarney, muito embora seja
lembrado pelo descontrole inflacionário,
também é sempre lembrado
pela condução do processo
de redemocratização do país.
[...] transição pacífica
para a democracia depois de 20 anos de
regime militar. A democracia, que no Brasil
está buscando instaurar uma Nova
República, tem como nota específica
não apenas um reencontro do Estado
com a sociedade, mas também com
as realidades e a escala das necessidades
de um país muito diferentes daquele
que existia em 1964, quando a intervenção
militar, em parte provocada por uma crise
de governabilidade, interrompeu a experiência
democrática da assim chamada República
Populista, iniciada em 1945 e assinalada
pelo início da extensão
das franquias políticas, sociais
e econômicas da população
brasileira. (LAFER, 1987, s/p).
Em 1985 realizaram-se eleições
diretas para prefeito das capitais, as
primeiras em vinte anos. Ocorreram, também,
as eleições para a Assembléia
Nacional Constituinte, a qual promulgou
uma nova constituição em
5 de outubro de 1988. Foram legalizados
todos os partidos políticos até
então clandestinos e extinta a
censura prévia. Em 1989 aconteceram
eleições diretas para Presidente
da República, as primeiras em 29
anos, dando início a tão
esperada democracia. (HISTÓRIA,
s/d).
2 Antecedentes da Integração
na América do Sul
Para entendermos melhor o que ocorre no
governo Sarney no que tange às
relações internacionais
na América do Sul é necessário
observar alguns acontecimentos anteriores.
A idéia de integração
regional na América do Sul não
é nenhuma novidade em tempos de
MERCOSUL. Em 1960 foi criada a Associação
Latino-Americana de Livre Comércio
(ALALC), congregando todos os países
da América Latina, exceto as Guianas,
e o México, com o objetivo de estimular
a industrialização e a diversificação
das economias latino-americanas. A instabilidade
política e a rigidez nos mecanismos
de liberalização comercial
levaram ao abandono da associação,
após 20 anos de tentativas (ABREU;
FLORENCIO; ARAUJO, 1996, p 35).
Em 1969, Argentina, Bolívia, Brasil,
Paraguai e Uruguai assinam o Tratado da
Bacia do Prata, que em seu artigo 1º
previa “promover o desenvolvimento
harmônico e a integração
física da Bacia do Prata e de suas
áreas de influência”,
congregando uma série de medidas
de cooperação econômica,
educacional e na área da saúde.
Em 1978 foi assinado o Tratado de Cooperação
Amazônico pêlos oito países
amazônicos: Bolívia, Brasil,
Colômbia, Equador, Guiana, Peru,
Suriname e Venezuela, que visava a promoção
do desenvolvimento harmonioso e integrado
da bacia. Pela primeira vez o conceito
de desenvolvimento sustentável
era aplicado na esfera multilateral, proporcionando
grandes vitórias à diplomacia
brasileira em outras organizações
internacionais (CERVO, 2001, p. 262).
Houve também diversos acordos bilaterais,
especialmente em relação
ao comércio, além de conversações
diplomáticas entre os diversos
países da América do Sul,
mas um importante avanço se deu
com a Associação Latino-Americana
de Integração (ALADI), que
teve sede em Montevidéu e reuniu
basicamente os mesmos membros da antiga
ALAC, com uma importante diferença
em relação a esta que era
a possibilidade daqueles países
com menor grau de desenvolvimento econômico
relativo tivessem preferências nos
termos de abertura de mercado. Essas associações
e os acordos firmados antes do período
Sarney são elementos facilitadores
para a aproximação mais
efetiva promovida por este governo.
3 Nova República
Foi a partir dos anos 1980 que o Brasil
começou a viver na chamada "Nova
República". A expressão
foi criada por Ulysses Guimarães
para designar o plano de governo da Aliança
Democrática, sendo assumida por
Sarney como sinônimo de sua administração
(HISTÓRIA, s/d). A passagem democrática,
em 1985, poderia ter trazido apenas um
espaço no contexto de um modelo
recorrente de mudanças políticas
caracterizado pela alternância de
governos civis e militares, que caracteriza
a História. Porém, quando
observamos o contexto do Brasil e da América
Latina, nesta década, pode-se perceber
uma aproximação maior desta
região, que combina uma geografia
e uma biografia muito próxima,
pois apresentam temas e problemas em comum,
derivados da forma semelhante que se incluíram
no sistema internacional.
Os países da América do
Sul buscavam interesses convergentes,
tentando superar as suas dificuldades
de cooperação, que derivam
tanto dos ciclos econômicos quanto
políticos. Este esforço
de cooperação veio da percepção
de que uma interdependência recíproca
que acontecia num país, afetava
e influenciava os demais, seja nos processos
de democratização, nos problemas
territoriais, de terrorismo, ou ainda
no campo econômico, por conta da
crise de recessão que se arrastava
desde a década de 1970. (LAFER,
1987)
Nos anos 1980, o contexto brasileiro mostrava
um cenário de intensas modificações,
que começam pela democracia, que,
como disse o presidente Sarney na Organização
dos Estados Americanos - OEA, em 11 de
setembro de 1986, não era ainda
uma conquista definitiva. (LAFER, 1987).
A demografia sofreu mudanças muito
significativas da década de 1960
para a de 1980. Em duas décadas
o Brasil havia se tornado a décima
economia do mundo em volume de produção,
havia ingressado na faixa dos países
majoritariamente urbanos e tinha passado
a ter uma estrutura industrial de grande
porte, diversificada e razoavelmente bem
balanceada, também houve acréscimo
e diversificação das exportações,
deixando de ser representado preponderantemente
por produtos primários.
A convulsão econômica, que
era enfrentada desde a crise do petróleo
na década anterior, ajudou a aumentar
ainda mais a já impagável
dívida externa, havendo um acréscimo
dos problemas sociais e uma redução
das importações. Nem tudo
foi uma tragédia, pois, a partir
de 1984, na Nova República existiu
um empenho interno de substituir as importações
de petróleo e, no contexto do comércio
mundial, da baixa das taxas de juros,
de modo que conseguiu um excepcional desempenho
econômico. (LAFER, 1987).
Entre 1987 e 1989, o governo José
Sarney enfrentou um processo de recessão
econômica, e por duas vezes decretou
a moratória unilateral da divida
junta ao FMI, o que levaria o Brasil a
enfrentar restrições. A
declaração de moratória,
deixava de ser um propósito econômico
para ser uma proposta política
(SCHIDT, 2002, p 216). Celso Lafer chama
a atenção:
[...] a ação independente
do GATT e do FMI como instâncias
ordenadoras da economia mundial de mercado
está perdendo, diante das novas
realidades. Daí o empenho da Nova
República de manter e aumentar
as suas margens de autonomia, não
se submetendo ao monitoramento do FMI.
(1987, s/p).
Então
podemos ver que a política implantada
para minimizar os efeitos da crise, tanto
socialmente como economicamente, foi uma
postura de não alinhamento, buscando
não se afastar da influência
do FMI, entretanto sem romper com ele,
pois ainda dependia economicamente. Mas
sim, se firmar como uma nova via para
a política externa bipolar Estados
Unidos/União Soviética.
A postura de buscar uma margem de negociação,
seja econômica ou política,
através de uma política
de não alinhamento automático
com os Estados Unidos, não era
novidade no Brasil. Mesmo antes dos governos
militares, Jânio Quadros procurou
implantar a Política Externa Independente,
mas isso não ficou restrito a PEI,
no período de abertura política,
no governo Figueiredo, já começava
a acontecer uma redefinição
das posições do Brasil no
cenário internacional. Como salienta
André Luiz Reis da Silva, em seu
artigo “As relações
entre o Brasil e os Estados Unidos durante
o regime militar 1964-1985” (2005),
que:
[...] o Brasil e a América Latina
tinham seus papéis constantemente
redefinidos pela política externa
norte-americana conforme as alterações
do sistema internacional e os interesses
do país. Mesmo sem nunca ter rompido
com o sistema interamericano sob a hegemonia
dos EUA, o Brasil buscou atuar de forma
independente, demonstrando que tinha interesses
próprios no sistema internacional.
(SILVA, 2005, p 276).
Esta postura brasileira de não
instituir uma margem para negociação,
um não alinhamento automático
com os EUA, não foi uma inovação,
mas sim um processo que começou
muito antes dos governos militares, que
foi deixado de lado por alguns anos, mas
que no período da abertura política
estava novamente em voga. O não
alinhamento com o EUA nesse período
fui uma saída para a crise que
se arrastava desde a década anterior,
o que permitiu uma nova forma de inserção
no exterior. E foi essa postura mais arrojada
ante a ordem estabelecida, estabelecendo
uma nova etapa das relações
com os outros países. Uma etapa
de cooperação entre os países
da América do Sul.
4 Aproximação com
a Argentina
A partir da nova conjuntura política,
com o retorno da democracia e a recuperação
da imagem do Cone Sul como uma área
de paz e progresso, Brasil, Argentina
e, em menor medida, o Uruguai tiveram
uma importante aproximação
entre os anos 1985 e 1989 (GINESTA, 1999,
p 87). O fim dos regimes militares nos
três países vai possibilitar
o surgimento de uma nova lógica,
a da cooperação política,
em detrimento da lógica da confrontação
e da desconfiança que era característica
do regime anterior em relação
à política internacional
(ABREU; FLORENCIO; ARAUJO, 1996, p 38).
Outro fator que influenciou a aproximação
entre os países do Cone Sul (Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai) foi a geografia
favorável, com uma fronteira viva,
não só entre Brasil e os
demais, mas entre Argentina e Uruguai
e entre Argentina e Paraguai. São
fronteiras extremamente permeáveis,
com forte contato entre as populações,
aparentemente em virtude da inexistência
de grandes obstáculos naturais
nas regiões limítrofes.
Além disso, não há
rivalidades étnicas, culturais
ou religiosas entre os habitantes dos
referidos países (ABREU; FLORENCIO;
ARAUJO, 1996, p 38).
Certamente não podemos esquecer
que apesar dos interesses convergentes,
havia rivalidades e ambições
nacionais que dificultavam o processo
de cooperação. Pois havia
um certo temor por parte dos paises hispano-americanos
em relação ao Brasil, de
que a integração estenderia
a hegemonia brasileira sobre o subcontinente,
em razão dos desníveis econômicos.
Também as sucessões de governo
podiam representar entraves, caso não
houvesse uma continuidade política
e de ação na direção
da integração.
Nos anos 1980, outro elemento de associação
entre os países do Cone Sul são
as dificuldades econômicas. A inflação,
o aumento da dívida externa, o
aumento do custo de vida, a deterioração
dos serviços sociais e as pressões
do FMI e do Banco Mundial não foram
exclusividades do Brasil. Essas dificuldades
motivaram o Brasil a buscar parcerias
bilaterais e multilaterais, encontrando
principalmente na Argentina um espaço
para esse estreitamento em virtude da
situação semelhante (MARTINS,
2003, p 66-67). Essa política de
aproximação regional, embora
seja uma continuidade dos governos anteriores,
possui alguns traços de ruptura,
pois passa a valorizar mais as relações
regionais em detrimento das relações
com os EUA e o como uma forma de resistir
às pressões do FMI, o que
merece destaque no caso da Argentina,
pois se trata de dois Estados importantes,
buscando políticas autônomas
e o desenvolvimento regional (PEREIRA,
2003, p 10-11).
As relações entre Brasil
e Argentina, afetadas pela tensão
acerca dos rios da região platina,
entram num quadro de entendimento político
a partir do acordo de compatibilização
entre as hidrelétricas de Itaipu
e Corpus no início de 1980. Fica
clara a disposição brasileira
de cooperação, quando por
ocasião do envolvimento da Argentina
na Guerra Fria e o conflito das Malvinas,
quando o Brasil adota uma postura moderada
e autônoma visando preservar a unidade
da América Latina. Outras ações
que demonstram essa preservação
regional podem ser citadas, como a ordem
do governo brasileiro de importar trigo,
petróleo e derivados da Argentina,
para aliviar o seu déficit comercial.
O encaminhamento para a esfera bilateral
entre os dois países, direcionado
pela diplomacia brasileira, propunha a
ajuda dentro de um processo gradual e
flexível de integração.
Entre as muitas questões a serem
debatidas, estavam as relações
comerciais e as implicações
que envolveriam eventuais modificações
políticas ou econômicas dentro
destes países, e qual seria o foro
de debate a abarcar essas discussões.
O SELA (Sistema Econômico Latino-Americano)
foi na primeira metade dos anos 1980 o
espaço mais concorrido de debate
das questões Latino-americanas,
porém o Itamaraty discordava tanto
da sua burocracia quanto do seu posicionamento
político. As instruções
do SELA propunham uma coordenação
dos países latino-americanos para
atuar internacionalmente diante aos países
credores, buscando soluções
coletivas para o endividamento externo,
enquanto o Brasil considerava mais adequado
acionar os mecanismos existentes (FMI,
BID e Bird) e o tratamento isolado do
caso brasileiro.
É importante ressaltar que o modelo
de integração proposto por
Sarney e Alfonsín tinha como aspiração,
além do privilégio aos setores
de bens de capital e a cooperação
técnico-científica, o estabelecimento
de regras que resguardassem o equilíbrio
e a simetria no desenvolvimento das relações
econômicas e comerciais entre os
países. Dessa forma, pode-se dizer
que a integração entre Brasil
e Argentina e posteriormente com o Uruguai
estava situada em bases políticas
mais estáveis que a ALALC e a ALADI.
Em suma, a diplomacia brasileira, depreciava
as diversas modalidades de consenso latino-americano,
por considerá-lo inexeqüível
em campos essenciais das relações
internacionais como o comércio,
as finanças, os transportes, o
provimento energético e as relações
com parceiros estratégicos como
os Estados Unidos e a CEE. Essas questões,
a menos que fossem encaminhadas isoladamente
por cada governo, teriam abrigo quando
muito em eixos bilaterais ou pequenos
grupos integrados, onde as soluções
se ajustassem aos contornos da realidade
comum. (CERVO, 2001, p 274). Pode-se observar
que níveis de integração
pensavam o governo brasileiro, a partir
do discurso do presidente Sarney, quando
ele diz que:
A integração entre o Brasil
e a Argentina nasce da vontade política
comum e já se traduz em iniciativas
conjuntas concretas, com os projetos de
represa no rio Uruguai, as interligações
elétricas, os estudos sobre a viabilidade
de fornecimento de gás e a associação
de projetos industriais.
O potencial de expansão do comércio
bilateral exige mecanismos novos, capazes
de reforçar as duas economias,
como defesa contra uma conjuntura internacional
adversa.
Ao mesmo tempo que dinamizamos as áreas
tradicionais decidimos dar, em nossa cooperação,
atenção prioritária
à biotecnologia, à informática,
às tecnologias de ponta essenciais
para evitar sermos marginalizados da revolução
científica de nossa época.
Num desses setores, o da tecnologia do
átomo, demonstramos nossa capacidade
de, sem desconfianças, preconceitos
ou rivalidades colocar a energia nuclear
ao serviço exclusivamente pacífico
do desenvolvimento dos nossos povos, através
de projetos conjuntos (FLORES, 2003, p
82).
Nesse
contexto, triunfou a ação
diplomática com a assinatura em
1986, dos doze protocolos de cooperação
entre o Brasil e a Argentina, o eixo em
torno do qual, cinco anos depois, o Tratado
de Assunção criaria o Mercosul.
Visto que esta foi a opção
brasileira, abandonando a intenção
anteriormente manifestada de aproximação
e construção de um eixo
norte entre Brasil e Venezuela e parcerias
nos setores de prospecção
de petróleo, petroquímica,
siderurgia e hidroeletricidade. A integração
com a Argentina, no Cone Sul, abriria
espaço para as exportações
brasileiras, já que ela representava
um importante mercado consumidor, o que
se delineará nos acordos de 1986
e 1991.
5 Conclusão
No que tange aos rumos dados pelo governo
Sarney na política externa brasileira,
pode-se perceber que não se trata
de uma grande ruptura em relação
aos governos militares, principalmente
em relação ao Cone Sul,
o que, no entanto, não indica uma
linha contínua da política
externa destes. Essa política de
aproximação com o Cone Sul
e com a América Latina como um
todo é uma alternativa encontrada
pelo Brasil para as relações
deterioradas com os EUA e com a Europa
em virtude dos conflitos comerciais desenvolvidos
na década de 1970. Trata-se de
um movimento lento, que pode ser percebido
pelos diversos acordos e tentativas de
integração desenvolvidas
desde a ALALC, mas que se intensifica
na década de 1980, quando a Argentina
passa a ser percebida como um parceiro
preferencial.
A importância do governo Sarney
nas relações comerciais
no Cone Sul está no estreitamento
destas relações diplomáticas
e na efetivação das relações
comerciais e de parcerias tecnológicas
entre Brasil e Argentina, formando a base
para o MERCOSUL, motivado pelas dificuldades
financeiras e posição em
relação ao sistema financeiro
internacional de ambos os países.
Esse movimento no sentido da cooperação
entre os países, de buscar em parceria
a solução para os seus problemas
econômicos e de desenvolvimento
só foi possível graças
a uma conjuntura diferente daquela dos
governos anteriores: a democracia.
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