
Estados Unidos e União Soviética.
História Livre - História Contemporânea - Guerra Fria
GUERRA FRIA: UM DEBATE INTERPRETATIVO
Resumo do texto de
Sidnei Munhoz
Marcos
Emílio Ekman Faber
Nos
anos que se seguiram à queda do Muro
de Berlim e à desagregação
do mundo soviético, muito vislumbravam
uma nova era de paz e prosperidade sob a liderança
dos EUA. Essa tese de matriz conservadora
era defendida, pois se acreditava que com
o fim da URSS, o capitalismo iria se desenvolver
como nunca antes, pois os pesados gastos com
armamentos não seriam mais necessários
e esses capitais iriam ser revertidos em ganhos
sociais. Como é possível observar,
isso não passou de mera construção
ideológica que tinha por objetivo expandir
as áreas de influências dos EUA
nessa nova ordem mundial.
É possível observar que no transcorrer
dos presidentes dos EUA, foram eleitos novos
inimigos, que passaram a ocupar o papel antes
desempenhado pelo comunismo. O que justificava
a atuação militar e os gastos
militares dos EUA em sua política intervencionista.
(Ex. Bush e o Eixo do Mal).
Desde os anos 90’ os EUA tem trabalhado com
a teoria do Choque de Civilizações
de Samuel Huntington. A decadência do
poder econômico e demográfico
Ocidental estaria ocorrendo em paralelo com
o crescimento da resistência de outras
civilizações, o que ocasionaria,
no futuro, um inevitável confronto.
Era necessário, então, ampliar
as fronteiras para que este confronto ocorra
o mais distante possível. O 11 de Setembro
reforçou estas teses nos setores ultra
conservadores dos EUA.
As Origens do termo Guerra Fria
A expressão Guerra Fria foi empregada
pela primeira vez em 1947, para denominar
a existência de uma guerra não-declarada
envolvendo EUA e URSS.
A
Historiografia sobre a Guerra Fria
São seis vertentes teóricas
principais:
- Ortodoxia norte-americana (tradicional):
expressa a visão da diplomacia
EUA, responsabilizando a URSS pela Guerra
Fria, em decorrência de recusar-se
a sair dos territórios conquistados
pela força. Os conflitos envolvendo
os dois países foram inevitáveis,
uma vez que a postura agressiva da URSS
era inerente ao regime comunista e seu
projeto de domínio mundial;
- História oficial ou ortodoxia soviética:
forma inversa da anterior. Mostra a Guerra
Fria como produto da agressividade imperialista
dos EUA. A Guerra Fria aparece como resultado
direto da Luta de Classes. Os círculos
reacionários ocidentais procuraram
retirar da URSS a sua esfera de influência
conquistada durante a Guerra. Em decorrência
a URSS teria procurado proteger essa área
da agressão imperialista. Uma vez
conquistado esta ordem socialista, a URSS
acenou com a busca pela coexistência
pacífica. Defendem que a URSS foi
o principal ator no estabelecimento da
détente;
- Revisionismo (surge na década de
1950): crítica as teorias da ortodoxia
norte-americana sobre a Guerra Fria. Destacam
as determinações da economia
interna e a influência na política
externa dos EUA. Entendem que a URSS não
pode ser responsabilizada pelo início
do conflito, pois, ao fim da II GM emergiram
duas nações vencedoras,
mas enquanto os EUA estavam em pleno vigor,
a URSS estava arrasada. A principal meta
soviética era de reconstruir o
país e criar uma zona de proteção
para evitar novos ataques. A URSS não
se constituía em ameaça
real aos EUA ou a Europa, como afirmam
os ortodoxos. A ação soviética
era defensiva, reagindo à postura
agressiva desenvolvida pela diplomacia
norte-americana. Segundo essa tese (Carelli)
após esgotada a expansão
territorial interna, desde a depressão
de 1890, os EUA buscam superar sua crise
doméstica, ocasionada por sua capacidade
de produção, através
da adoção de uma política
expansionista (imperialismo). Problemas
econômicos domésticos e questões
ideológicas teriam levado os EUA
a adotarem uma política externa
agressiva, intervindo sobremaneira nos
negócios de outras nações,
objetivando controlar fontes de matérias-primas
e mercados consumidores;
- Pós-revisionista (surge na década
de 1980): é uma tentativa de dar
por superada a fase revisionista do estudo
da Guerra Fria. Defende a idéia
de que, com a desagregação
do mundo soviético, havia a possibilidade
de se buscar um consenso pós-revisionista.
Procura se posicionar numa suposta neutralidade
e imparcialidade para analisar empiricamente
a validade das teses anteriores, porém
mantendo uma posição pró-Ocidente
e muito próxima das teses ortodoxas.
Afirmam que após a IIGM, os EUA
tornaram-se numa nação imperial,
isso não inspirado pelo capitalismo
ou o temor de uma nova crise, mas por
que os EUA eram os protetores do ocidente,
frente ao avanço soviético;
- Corporativista: vêem uma continuidade
entre a política da Nova Era (1920)
e do New Deal (1930) e as políticas
aplicadas pelos EUA após a IIGM,
onde os EUA buscaram uma estruturação
de uma nova ordem econômica tanto
interna como externa. Essa análise
privilegia a influência da economia
doméstica, das questões
sociais e ideológicas da diplomacia.
Assim, a política externa seria
profundamente influenciada pela pressão
de grupos organizados internos. Nos EUA
havia se desenvolvido um Estado associativo
ou neocapitalismo corporativo, baseado
na auto-regulação dos grupos
econômicos, integrandos por coordenações
institucionais e por mecanismos de mercado.
Os líderes dos EUA buscaram durante
o transcorrer do século XX construir
uma ordem mundial tomando como referência
o modelo corporativista desenvolvido internamente.
O plano Marshall possibilitou os elementos
necessários à reconstrução
de uma balança de poder na Europa,
oferecendo aos seus participantes as condições
para conter o bloco soviético.
Através de novas alianças
militares e de programas de assistência,
foram criados sistemas de segurança
coletiva. Liderados pelos EUA, que garantiam
essa nova ordem, contra possíveis
agressores;
- Fred Halliday: divide o estudo da Guerra
Fria em várias fases: Guerra Fria
(1946-53); Antagonismo Oscilatório
(1953-69); détente (1969-79) e;
a Segunda Guerra Fria (após 1979).
A primeira Guerra Fria possui seis características
marcantes: expansão militarista,
intensificação da propaganda,
ausência de negociações,
conflito entre capitalismoXsocialismo
que se manifesta no Terceiro Mundo e os
conflitos dentro dos blocos era subordinados
ao conflito principal. Para Halliday,
a Segunda Guerra Fria havia se desenvolvido
como o seu predecessor, como o rompimento
de relações entre as principais
potências capitalistas e a URSS.
Ambos os lados se preparando militarmente
para uma possível agressão
inimiga.
As Origens do Conflito
Os conflitos ocorridos durante o período
da Guerra Fria estavam inseridos em uma complexa
teia em que se entremeavam os interesses geopolíticos
das potências mundiais e dos seus respectivos
blocos. As disputas entre parceiros menores
revelavam uma busca por consolidação
de hegemonias regionais.
Havia diferentes expectativas em relação
ao reordenamento do mundo que emergia dos
escombros da guerra, o que somado às
desconfianças mútuas, constituía
um solo fértil para a eclosão
de conflitos.
Durante a IIGM, os aliados esperaram o resultado
do conflito entre Alemanha e URSS para então
abrir uma segunda frente de combate ao exército
alemão. Essa estratégia permitia
às nações do Ocidente
de livrar-se de dois inimigos comuns, nazistas
e comunistas. Porém, o Exército
Vermelho ocupou a maior parte do Centro Leste
europeu após a IIGM. Quanto da Conferencia
de Ialta (fevereiro de 1945) a supremacia
soviética nessas áreas era incontestável.
Durante a Guerra Fria, EUA e URSS, rivalizavam
pela consolidação de seus projetos
políticos levando o conflito de interesses
a uma escala planetária. Por outro
lado, após a exacerbação
inicial, houve estabilidade. Do lado de cada
nação posicionaram-se seus aliados,
estes, porém, não agiam de forma
homogênea.
Tanto nos EUA quanto na URSS alimentavam um
forte sentimento de insegurança, essa
insegurança presente nas populações
de ambas as nações atendia às
políticas intervencionistas destes
países, pois alegavam garantias de
segurança nacional.
A Conferência de Ialta, entre Inglaterra,
EUA e URSS, demonstrou o crescimento da importância
da URSS como potência mundial.
A IIGM havia terminado na Europa quando os
EUA testaram à primeira bomba atômica,
sem conhecimento da URSS. Com os bombardeios
em Hiroshima e Nagazaki, houve a rendição
japonesa. O bombardeiro impediu a ação
soviética no Japão e, portanto,
impediu a participação soviética
em áreas de influência japonesas.
O bombardeio serviu para impor um recuo soviético
na Europa. Dessa perspectiva, o emprego das
bombas nucleares contra o Japão poderia
ser considerado o marco inicial da Guerra
Fria.
É inegável que a URSS tivesse
tendências expansionistas na Europa,
porém não representava uma ameaça
militar à Europa. O país estava
arrasado e sua principal tarefa era a auto-reconstrução.
A principal ameaça soviética
à Europa estava no campo ideológico,
seduzindo as organizações de
esquerda.
Ao contrário do que afirmaram os revisionistas
a postura soviética não foi
meramente defenciva, mas também não
é possível a versão ortodoxa
de que o conflito se deu porque os soviéticos
ameaçavam a Europa, restando aos EUA
a alternativa de lutar pela defesa da democracia.
O conflito se intensificou quando os EUA adotaram
uma política de consolidar sua hegemonia
global, impondo recuos à influência
soviética no continente.
Entre 1946 e 1948, a política anglo-norte-americana
foi de pressionar a URSS (discurso de Churchill
sobre a Cortina de Ferro, Doutrina Truman,
Plano Marshall). Enquanto que os soviéticos
buscavam uma negociação diplomática.
Os soviéticos acusaram o Plano Marshall
de ser um ardil norte-americano para subornar
economicamente a Europa.
Em 1949 foi criada a OTAN. Neste mesmo ano
a URSS explodiu sua primeira bomba atômica
e a China tornou-se comunista. Foi criada
a República Democrática da Alemanha
(RDA) Oriental. Em 1950, estoura a Guerra
da Coréia, primeira guerra da Guerra
Fria.
A perseguição ideológica
foi uma constante nos dois blocos. Nos EUA
houve o macarthismo, além de outras
manobras de propaganda anti-comunista. Qualquer
oposicionista ao governo norte-americano poderia
ser considerado inimigo do Estado. Foi construída
nos veículos de comunicação,
a imagem do perigo comunista, como se este
perigo estivesse presente dentro da sociedade
americana. Chegou-se até a construir-se
campos de concentração para
abrigar os esses presos (porém, não
foram usados para este fim).
Diferentes Percepções
do Conflito
Nos países do campo soviético,
o difícil caminho da pluralidade e
das vias específicas de cada país
rumo ao socialismo sucumbiu ao expansionismo
soviético. O conflito emergente justificou
a intensificação da repressão
tanto dentro da URSS quanto em suas áreas
de influência. Assim, os regimes de
economia mista foram rapidamente transformados
em regimes de partido único e de economias
planificadas. Os opositores foram lançados
na ilegalidade.
Os efeitos da Guerra Fria foram sentidos também
em países que experimentavam processos
revolucionários ou reformistas em seus
territórios. De uma forma ou de outra
estes conflitos estavam ligados ao conflito
global. Pois havia ligação entre
as políticas públicas destes
países e as diretrizes emanadas dos
blocos de poder a que estavam ligados.
Já o que se refere a população
normal, dos países envolvidos na Guerra
Fria, possuía uma imagem da Guerra
Fria que era aquela produzida pela mídia
(jornais, TV, cinema, quadrinhos, revistas
femininas, músicas, etc.).
Resumo de:
MUNHOZ, Sidnei. Guerra Fria: Um Debate Interpretativo. In: SILVA, Frnacisco Carlos Teixeira da (org.). O Século Sombrio: uma História geral do século XX. São Paulo: Editora Campos.
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